CGV #6: Do sarcófago à farmácia: a história do Marrom Múmia
“Uma pitada de breu, uma colher de mirra e xícara de pó de múmia”
Oi, tudo bem?
Começo nosso papo com uma afirmação: “Ninguém vive impunemente numa cidade”. Essa frase é de Autran Dourado (1926 - 1912), vencedor do Prêmio Camões de Literatura, a maior honraria do tipo em língua portuguesa.
Dourado, que foi também secretário de imprensa do presidente Juscelino Kubitschek, pensava em Praga e em Franz Kafka quando escreveu sua sentença, que li na obra Uma Poética de Romance, publicada em 1973. Feita essa (nada pequena) ressalva, creio que a frase de Autran Dourado também se aplica a cada um de nós - e, claro, a qualquer cidade.
Trabalho de home office há 10 anos, experiência que me garantiu certo talento para organizar meu próprio tempo, uma enorme preguiça de enfrentar o trânsito da hora do rush e uma implacável dor na lombar. Assim como fazem minhas amigas de 360, eu poderia viver e trabalhar em qualquer lugar do mundo, mas escolhi permanecer em Belo Horizonte. E isso, como ensina Autran Dourado, tem suas consequências: sou, como tantos belo-horizontinos, uma pequena parte desta metrópole; por outro lado, BH é um pedaço imenso de mim.
Belo Horizonte está na minha forma de pensar, nos meus valores, hábitos, gostos, medos e frustrações. Na minha alimentação, no meu lazer, nas dores e, por que não, até nos meus problemas de saúde. Somos o lugar onde vivemos e tá aí uma das maravilhas de viajar: é só cair na estrada para conseguir levar um pouquinho de outros lugares com você.
Escrever e contar histórias sempre foi minha obsessão, o objetivo profissional derradeiro. Eu adoro contar causos dos mais diversos lugares deste mundão sem porteira, mas BH sempre vai ser onde minhas melhores histórias acontecerão.
Por isso, estou muito feliz com dois filhos da pandemia, projetos que nasceram justamente porque, durante dois anos, eu pouco saí da cidade. São as caminhadas culturais Boemia e Literatura nos anos 1920 e Nostálgicos FC - a origem do futebol belo-horizontino. Você é de BH? Vai visitar a cidade? Fica o convite para participar, me chamando lá no Instagram.
Dito isso, deixo vocês com histórias de duas belo-horizontinas que escolheram viver em outros cantos do mundo.
A Luíza fez uma reportagem especial que vale a leitura: você sabia que múmia triturada já foi uma tinta e também um remédio?
Já a Natália escreveu uma crônica inusitada que reúne praia, briga de casal, pedido de casamento e até um personagem famoso e com fama de desagradável. Mas sem spoilers, né?
Do sarcófago à farmácia: a história do Marrom Múmia
“Uma pitada de breu, uma colher de mirra e xícara de pó de múmia”
“Uma pitada de breu, uma colher de mirra e xícara de pó de múmia”. A frase pode até parecer saída de uma receita de feitiço de um conto de fadas infantil. Mas tais ingredientes são, na verdade, parte da receita para uma tinta: o marrom-múmia, ou mummy brown.
E o nome múmia não é uma descrição para uma cor que lembra uma múmia. O tal marrom, usado por pintores durante quatro séculos, tinha como fonte múmias humanas e de felinos vindas do Egito e das Ilhas Canárias.