Dia de Iemanjá em Salvador: Fé, tradição e festa no Rio Vermelho
Embora as oferendas sejam entregues em diversas praias do Brasil, é no Rio Vermelho que a festa tem mais corpo.
O telefone não tocou na madrugada do dia 2 de fevereiro e, embora ainda fossem 5h30 da manhã, eu já corria pelas ruas do Rio Vermelho, me sentindo atrasada. Com os passos mais rápidos que minha saia de renda branca me permitiam dar, eu me desviava das multidões que inundavam o bairro.
Assim como eu, algumas das pessoas ali se despertaram antes do sol nascer e, trajando as cores da rainha, se dirigiram para a orla para prestar suas homenagens no dia de Iemanjá em Salvador. Outras tinham cara de ontem, olhar bêbado e sorriso na cara.
Passei por tambores, batuques, procissões com estátuas e flores e blocos de carnaval. Na Bahia, a fé e a festa andam sempre juntas.
O Dia de Iemanjá no Rio Vermelho
Quem passa pelo Rio Vermelho na noite do dia 1 já pega um vislumbre do que é festa. Assim que o sol se põe, a areia da praia se enche de devotos levando suas oferendas: rosas brancas ou crisântemos, em sua maioria, mas também cartas com agradecimentos e pedidos, sabonetes, barquinhos enfeitados, conchas e búzios.
Os pescadores os aguardam em seus barcos de madeira e, por cerca de R$ 20, acordam o transporte até um ponto longe da praia, onde os presentes seriam deixados sem o risco de que retornassem à areia.
Embora as oferendas sejam entregues em diversas praias do Brasil, é no Rio Vermelho que a festa tem mais corpo.
A tradição começou em 1923, quando um grupo de pescadores, preocupados com a escassez de peixes, decidiu fazer uma oferenda à Rainha do Mar, pedindo fartura e proteção.
Eles prepararam um presente com flores e outros agrados e entregaram tudo ao oceano em agradecimento e como um pedido de bênção. A pesca melhorou, e o ritual passou a ser repetido todos os anos, ganhando força e atraindo cada vez mais devotos.
Com o tempo, o evento deixou de ser apenas uma celebração dos pescadores e passou a reunir adeptos do Candomblé, simpatizantes das religiões afro-brasileiras e até pessoas que misturam fé e tradição sem necessariamente seguir um credo específico.
Por volta da década de 1950, a Festa de Iemanjá havia se tornado um evento consolidado na cidade, reunindo milhares de pessoas na orla do Rio Vermelho.
Levar um presente pro meio do mar
Mas o Rio Vermelho não era meu destino final na festa de Iemanjá. Depois de atravessar a praia de uma ponta a outra, parando vez ou outra para ver o movimento, subi as ladeiras e becos do bairro em busca de uma avenida com trânsito livre.
De Uber, segui para o Terminal Náutico de Salvador, onde eu deveria estar às 7:30 da manhã para me encontrar com Pai Fábio, pai pequeno do Terreiro do Pai Rodney, com quem eu havia combinado, na noite anterior, minha participação no grande evento organizado pela casa para saudar Iemanjá.
Foi Ismael dos Anjos, um amigo frequentador do espaço em São Paulo, quem me falou da festa: “Eu participei há alguns anos e é muito especial".
No início, pensei que não queria perder as homenagens coletivas no Rio Vermelho, mas quando entendi que, ali pela metade da manhã, o evento da praia se tornava um grande carnaval, a ideia de levar uma oferenda em alto mar me pareceu a melhor opção.
À bordo de uma escuna, com grupo de 80 ou 100 pessoas de várias partes do país, todos deixamos nossas rosas em um grande buquê e, após algumas palavras, orações, canto e tambor, as flores foram jogadas ao mar.
“Agora é festa”, disse Pai Rodney. E com comida e bebida farta, dançamos músicas da Bahia e mergulhamos na Praia das Neves. Como eu disse antes, na Bahia, a fé e a festa andam sempre juntas.
Como curtir o dia de Iemanjá em Salvador
Fique hospedado no Rio Vermelho. Durante a festa, o bairro fica fechado para trânsito de carros e, por isso, só é acessível à pé.
Vale a pena ir à praia na noite do dia 1. Até as 20h, a região ainda estava bem tranquila e foi ótimo para ver as oferendas sem o tumulto do dia 2.
No dia 2, chegue bem cedo. O ideal é estar lá antes do nascer do sol, para ver a alvorada. Ali pelas 7h, o evento vira carnaval e as ruas ficam mais lotadas. Aí você pode escolher se fica ou se vai curtir uma praia em outro lugar.
Você pode comprar suas rosas de vendedores ambulantes no Rio Vermelho. Eu paguei R$ 5 pela minha.
Se resolver permanecer ali, tome muito cuidado, tanto nas multidões, quanto ao caminhar nas ruas adjacentes. Esse ano teve muito relato de furtos e até arrastões. Leve uma doleira e deixe tudo que puder em casa.
Sobre a Autora:
Sou jornalista, escritora e nômade. Viajo o mundo contando histórias e provando cervejas locais desde 2010. Além do 360meridianos, também falo de viagens na minha newsletter Migraciones e no meu canal no Youtube. Vem trocar uma ideia comigo no Instagram. Dá pra saber mais do meu trabalho clicando aqui.
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