[360 #33] Dubai Sozinha e Sem Preconceitos
Eu nunca quis ir para Dubai... até que recebi um convite irrecusável para conhecer a cidade sozinha.
Dubai me intrigou.
Contrasta novo e velho, o local e o estrangeiro.
Muitas vezes, parece mais um parque de diversões do que uma cidade.
Mas por baixo dessa camada de luxo, quando você conversa com as pessoas ou visita os museus, ganha perspectivas diferentes sobre essa vila de pescadores se tornou uma metrópole global em menos de 50 anos.
O Convite
O convite para visitar Dubai veio do órgão oficial de turismo da cidade. Eu, particularmente, nunca tive Dubai como uma prioridade. O estereótipo de ser um destino de compras, luxo e ostentação nunca me interessou.
Mas, dessa vez, o convite era bastante tentador. Algum de nós faria a viagem sozinha(o). O roteiro, apesar das sugestões do VisitDubai, seria por nossa conta. Sem um grupo de outros jornalistas e blogueiros, sem um funcionário oficial nos acompanhando dia e noite. Poderíamos fazer uma viagem com a cara do 360meridianos.
E então, para decidir quem ia, fizemos o que toda empresa séria faria: jogamos pedra, papel ou tesoura.
Brincadeira, a gente achou um site de sorteio online e sorteamos… a Natália.
Só que depois de meses de negociação, a Naty teve que desistir de ir porque as datas e as passagens de onde ela estava não estavam batendo. E foi assim que eu, Luiza, descobri que iria para Dubai com apenas dois meses de antecedência.
Dubai Sozinha
Com roteiro semi-organizado, passagens e hospedagem em mãos, eu segui para Dubai no fim do verão, sem saber muito o que esperar além do calor.
Eu confesso que estava um pouco apreensiva sobre o que usar, como seria o transporte público ou pegar táxi, ou se daria para andar na rua sozinha.
Minhas experiências anteriores em países mais conservadores nunca foram exatamente confortáveis.
Dubai foi muito melhor do que as minhas expectativas, foi o lugar mais tranquilo que já estive do Oriente Médio.
Eu fiz todas as coisas sobre as quais estava apreensiva com zero stress de assédio. Vi gente do mundo inteiro usando todo tipo de roupa, nenhum táxi foi desagradável, ninguém olhou duas vezes para minha mesa sozinha nos restaurantes, realmente correu tudo bem.
A única coisa que eu desisti bem rápido de fazer foi andar sozinha na rua. Não porque me senti ameaçada, mas porque o calor de 48º com sensação térmica de inferno, me impediu de explorar muito mais do que uma caminhada de manhã cedo na região velha da cidade.
Desfazendo Preconceitos
Mas além da apreensão sobre viajar sozinha para lá, eu também tinha meu preconceito sobre Dubai ser uma cidade “fake” para turistas, cuja principal atração era simplesmente ir ao shopping.
Eu sei que não estou sozinha nesse pensamento, muita gente já compartilhou comigo o mesmo sentimento.
Eu fiquei hospedada na parte velha da cidade e boa parte do meu roteiro envolveu passear por ali. Uma mistura de reconstrução do passado e tradições genuínas.
Porque sim, existe uma Dubai antiga, uma vila de pescadores beduínos, que viviam de catar ostras e vender pérolas. Que tem souks (mercados) tradicionais como qualquer país árabe, vendendo perfumes, tecidos, ouro.
A Bur Dubai, ou Old Dubai, tem diferentes bairros que ficam ao redor da Dubai Creek, um canal natural de água salgada perto do qual a cidade nasceu. A população local ainda utiliza os barcos antigos, chamados Abra, para cruzar o canal.
Todos os museus que visitei na cidade são inovadores, modernos e interativos. Vários trazem perspectivas sobre o passado, presente e visões de futuro da cidade. As reservas de petróleo, que trouxeram a riqueza e os investimentos, praticamente já acabaram. Mas o projeto de transformar Dubai num centro de negócios e turismo global deu certo e hoje é isso que move a economia da cidade.
Eu também tive a chance de conversar com habitantes da cidade. Imigrantes, que são a maioria da população, vindos de países como Egito, Paquistão, Nepal, Filipinas. Essas pessoas se mudaram para Dubai em busca de melhores condições de vida.
Os locais, emiratis, que são a minoria. Eles têm acesso a toda estrutura que o governo provém: casa, educação e saúde gratuitos. Mas para manter os privilégios, precisam se casar dentro da mesma nacionalidade e manter os preceitos de sua religião.
Não sou inocente de acreditar que as perspectivas positivas que ouvi são as únicas, ou que não existem problemas sérios no país. Mas a verdade é que eu, como brasileira e imigrante há mais de oito anos, sei que problemas existem em todo lugar.
Meu veredito é que Dubai é uma boa cidade introdutória para quem nunca viajou para o Oriente Médio. A mistura de tantas nacionalidades e a excelente estrutura turística garante mais tranquilidade para mulheres sozinhas.
Claro, recomendo tomar as mesmas precauções que você teria numa viagem sozinha para o São Paulo ou para Paris, porque infelizmente ser mulher nesse mundo é perigoso até dentro de casa. Mas por isso mesmo não vamos deixar de viajar, né?