[News 360 - #44] Um quadro amaldiçoado e os governadores que temiam fantasmas
Os governadores morriam em série. Com fama de amaldiçoado e de ser possuído por um fantasma, um quadro acabou expulso do Palácio.
O quadro precisava ser imediatamente expulso do Palácio Presidencial — só assim os políticos estariam seguros. Feita pelo artista Belmiro de Almeida (1858 - 1935), a pintura mostra uma mulher chorando numa poltrona. Ela tem cabelos ruivos muito longos e apoia a testa em uma das mãos. No chão e aos pés da mulher, uma carta com bordas negras.
O quadro se chama A Má Notícia. Com influência francesa, a obra foi apresentada ao mundo em 1897, em Ouro Preto. Na época, a cidade histórica ainda era capital de Minas, mas essa realidade mudou pouco depois: no dia 12 de dezembro daquele ano ocorreu a transferência para Belo Horizonte.
Esse não é o melhor trabalho de Belmiro de Almeida, mas certamente é o mais famoso. É que a carta de bordas negras era um aviso de luto. Quando as mortes começaram, isso foi suficiente para colocar a pintura no banco dos réus.
Mortes em série
No final do século 19, o quadro foi transferido, junto com o resto do funcionalismo, para a nova capital. Ali, ganhou moradia no Palácio Presidencial, também conhecido como Palácio da Liberdade — é que nessa época os estados brasileiros tinham presidentes, não governadores.
O Palácio da Liberdade servia de local de trabalho e também de moradia para o Presidente de Minas Gerais e sua família. O segundo ocupante daquele prédio foi Francisco Silviano de Almeida Brandão (1848 - 1902). O político estava no final do mandato e já tinha sido até eleito Vice-Presidente da República, na chapa do paulista Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848 - 1919), quando a indesejada das gentes apareceu.
Silviano Brandão morreu sem completar o mandato no governo de Minas e sem assumir a vice-presidência, no Rio de Janeiro. Nos anos seguintes, outros três governadores mineiros morreram no exercício do cargo: João Pinheiro (1860 - 1908), Raul Soares (1877 - 1924) e Olegário Maciel (1855 - 1933).
Se excluirmos os quatro vices que assumiram o governo de Minas após a série de mortes, nesse período o estado teve 10 governadores. Basta fazer as contas: na República Velha, a taxa de letalidade do Palácio da Liberdade era de inacreditáveis 40%.
Como todas as mortes tinham sido de causas naturais, era impossível acusar um ser humano. A saída foi culpar um fantasma.
Maria Papuda
Como já contei em outra edição desta newsletter, a construção da atual capital de Minas tirou do mapa uma cidade colonial de duzentos anos. Uma das moradoras daquela cidade tinha fama de bruxa. Ela se chamava Maria e sofria de bócio, doença que causa o aumento da tireóide.
Maria Papuda morava num casebre que ficava no terreno destinado ao Palácio da Liberdade. Ao ser expulsa de casa, ela soltou a maldição. Uma nuvem de morte estaria ligada ao destino dos moradores do futuro Palácio.
Ninguém ligou para a maldição de Maria Papuda, até que governadores começaram a morrer num ritmo impressionante. A bruxa há muito tinha se mudado de Belo Horizonte e não se sabia de seu paradeiro. Não demorou para as duas lendas da cidade se unirem numa só. Morta, Maria Papuda teria possuído o quadro A Má Notícia.
Políticos não costumam acreditar em quadros possuídos por espíritos, mas que eles existem, existem. A Má Notícia foi exilada do Palácio da Liberdade e passou as décadas seguintes em busca de um lar, até encontrar repouso no Museu Mineiro, onde pode ser visitada.
Não satisfeito com isso, o governador Milton Campos iniciou a construção do Palácio das Mangabeiras, para onde seu sucessor, JK, se mudou, deixando o Palácio da Liberdade apenas para o trabalho. Desde então, nenhum governador de Minas morreu no cargo — até Tancredo Neves escapou.
Itamar vê fantasmas
Isso não quer dizer que o fantasma não foi mais visto. Em suas últimas semanas como governador, Itamar Franco (1930 - 2012) deu uma entrevista no Palácio da Liberdade. E garantiu: o prédio era “povoado de fantasmas”.
Aécio Neves, seu sucessor, ergueu outro Palácio, o Tiradentes, transformando o velho Palácio da Liberdade num endereço cultural.
Toda cidade tem seus fantasmas e demônios. Poucas — será que alguma outra? — podem se orgulhar deste feito: a obra de arte mais famosa de Belo Horizonte é possuída por um espírito.
Meu livro será lançado na Academia Mineira de Letras!
Já te contei algumas vezes sobre meu livro, o romance “Dos que vão morrer, aos mortos”, publicado pela Editora Urutau. A obra fala de luto, família e saúde mental e a história ocorre em Belo Horizonte.
Você é de BH ou estará por aqui neste final de semana? Então quero te fazer um convite muito especial: neste sábado (20/7) meu livro será lançado na Academia Mineira de Letras.
Esse é o primeiro lançamento coletivo da AML. Meu romance foi selecionado para participar do evento, que reúne livros publicados em Minas Gerais nos últimos três anos. Será uma honra contar com sua presença lá.
Cada autor e autora falará por cerca de 15 minutos e depois será realizada uma sessão de dedicatórias. Começa às 10h. A AML fica na Rua da Bahia, 1466. O evento é gratuito.
Também estarei presente na Bienal do Livro de São Paulo, no dia 6 de setembro.
Para quem se interessou, mas não pode estar nos eventos: dá para pedir o seu exemplar diretamente comigo. O livro vai com uma dedicatória super especial. É só seguir o passo a passo:
Responda este email e informe seu endereço com CEP, para entrega dos Correios.
Informe também o nome que vai na dedicatória. É o seu? É presente? É seu nome ou seu nome e sobrenome?
Se quiser adiantar, pode fazer o pix para a chave rafael7camara@gmail.com - esse é meu email pessoal e a conta está em meu nome.
O valor é R$ 70 (R$ 60 do livro + R$ 10 para o frete dos Correios).
Ficou com alguma dúvida? Coloca no email também!
Sobre o autor
Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril.
Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos.
Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau.
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