[News 360 - 48] A história do navio sueco que morreu na praia
Nunca teríamos tido a chance de ver um navio de 400 anos tão preservado de perto se a Vasa não tivesse afundado tão cedo. A prova de que um dia os humilhados, são sim, exaltados.
Nomeie um navio na história que afundou na primeira viagem? A maioria das pessoas vai dizer o Titanic, mas é possível que um sueco ou outro digam: Vasa. A grande diferença entre os dois é que você pode ver a Vasa (o navio tem pronome feminino) de pertinho, uma gigante de quase 400 anos que não sobreviveu à sua inauguração.
O ano era 1625 e a região do mar Báltico estava – como de costume – em conflito. Na época, a Suécia tentava se estabelecer como o grande império da região. Por isso, o rei Gustavo II Adolfo mandou construir navios de guerra para enfrentar a Polônia, a Lituânia e outros inimigos que ameaçavam o controle sueco no Báltico.
Um desses navios ficou sob os planos de dois holandeses, Henrik Hybertsson e Arendt de Groote, todos fiscalizados pessoalmente pelo Rei. Eles planejaram um barco grandioso e luxuoso, com 52 metros de altura (incluindo o mastro), 11 metros de largura e 69 metros de comprimento.
Esculturas coloridas, ricamente decoradas, contrastavam com os 64 canhões de bronze.
Cada detalhe foi pensado para homenagear a coroa sueca e amedrontar os inimigos. Esse era um dos navios mais poderosos e armados da época.
A fatídica viagem inaugural da Vasa
Em dois anos, o barco teoricamente estava pronto para zarpar. Ou pelo menos foi nisso que o Rei Gustavo II Adolfo acreditou quando ordenou que, em 1628, a Vasa saísse em sua primeira missão militar, carregando uma tripulação de 150 pessoas.
O problema foi que os holandeses fizeram um excelente trabalho em construir um navio gigante, bem armado e cheio de detalhes luxuosos. Mas um péssimo trabalho em termos de engenharia naval: a Vasa era muito estreita e alta para o seu peso, o que a tornava instável.
No dia que zarpou, em 10 de Augusto de 1628, o barco mal teve tempo de sair do porto de Estocolmo. Andou literalmente 1.300 metros, quando um simples ventinho mais forte fez o barco virar.
A Vasa afundou em questão de minutos, em frente a uma multidão que assistia a inauguração, levando de 30 vidas da tripulação consigo e fazendo casa nas águas geladas do Báltico, parcialmente enterrado na lama.
Anos se tornaram décadas e depois séculos. Por 333 anos, a Vasa ficou embaixo d’água, nunca completamente esquecido, dada sua inauguração vergonhosa. Alguns dos artefatos, como esculturas e canhões foram recuperados, mas o navio continuou preso na lama do porto de Estocolmo.
Da Lama à Exposição
Isso até a década de 1950.
O técnico naval Anders Franzén, um entusiasta de arqueologia, acreditava que o navio poderia estar bem preservado devido à baixa salinidade das águas do mar Báltico e à ausência de organismos que normalmente destroem madeira submersa. Depois de anos de pesquisas e tentativas, em 1956, ele finalmente localizou a Vasa e conseguiu autorização para realizar o resgate.
O processo foi uma das mais complexas operações de recuperação de um naufrágio já realizadas. Ao contrário do navio, foi uma obra incrível de engenharia.
Mergulhadores começaram a trabalhar em 1957, passando quatro anos cavando seis túneis sob o casco do navio para passar cabos de aço, que seriam usados para levantá-lo.
Em uma operação extremamente delicada, esses cabos foram conectados a pontões flutuantes na superfície, e gradualmente a Vasa foi içada em várias etapas. A grande preocupação era que o casco, após mais de 300 anos submerso, poderia desmoronar sob o peso de sua própria estrutura durante o processo.
Com cinco anos de trabalho, e de forma televisionada, em 24 de abril de 1961, a Vasa emergiu novamente. Mas isso era só o início do trabalho para preservá-lo.
Preservando num navio de quase 400 anos
Após a remoção do navio do fundo d’água, foi necessário iniciar imediatamente o processo de conservação, já que a exposição ao ar poderia causar o rápido deterioramento da madeira.
O material precisou passar por um longo processo de tratamento, que se estendeu por 17 anos. Foi utilizado polietilenoglicol (PEG), um composto químico que substitui a água na madeira, evitando que ela rachasse.
Durante esse período, arqueólogos e restauradores começaram a reconstruir o navio, catalogando cada detalhe e montando as peças que haviam sido recuperadas.
Além disso, ao longo de 1961 a 1990, foram trocados, um a um, os antigos pregos de ferro que enferrujaram e comprometiam a madeira. Uma nova estrutura de aço inoxidável foi especialmente criada para substituir as 5.000 ligações na estrutura.
Vasa Museum
Em 1990, o museu foi inaugurado. É, hoje, um dos museus mais visitados de Estocolmo.
O Museu Vasa, tem 7 andares que permitem ver a Vasa de todos os seus gloriosos ângulos. E, ainda uma exposição para entender como era o barco por dentro, a vida da tripulação e a história desde sua construção até ele ser retirado d’água.
Nunca teríamos tido a chance de ver um navio de 400 anos tão preservado de perto se a Vasa não tivesse afundado tão cedo. A prova de que um dia os humilhados, são sim, exaltados.
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