No início de 1921, Gustav Vigeland e a cidade de Kristiania estavam numa disputa acirrada.
De um lado, a prefeitura queria demolir a casa do homem e construir uma biblioteca. Do outro, o artista insistia que precisava do próprio estúdio para trabalhar e viver. O resultado desse impasse foi a construção do parque de esculturas mais estranho do mundo.
Após a longa disputa, Vigeland e a prefeitura chegaram a um acordo.
Cerca de 20 anos antes, a cidade havia adquirido um terreno de uma mansão, localizado nos limites da cidade, e criou um parque público, em 1904. Essa área longe do centro foi o local escolhido para que o recluso e misterioso Vigeland vivesse e trabalhasse.
Em retorno pela moradia, o escultor doaria a Kristiania todo o trabalho que fizesse dali para frente, até a sua morte.
Gustav ganhou um apartamento com dois quartos, biblioteca, sala de jantar, sala de estar, atelier, e até um banheiro com banheira e lavatório, um puro luxo para a época, já que os banheiros em apartamentos costumavam ser externos e comunitários (eu morei num desses flats antigos sem banheiro e contei essa história uma vez, quando me mudei para Berlim).
Ele se mudou oficialmente para o Parque Froger em 1924 e Kristiania adotou seu antigo nome viking, Oslo, em 1925. E eles, cidade e artista, seguiram vivendo num belo acordo.
Se você visitar Oslo hoje, vai descobrir que o Frogner parque é mais conhecido pelo nome de seu habitante (e decorador) mais ilustre Vigelandsanlegget - ou Vigeland Park.
É que não satisfeito com a troca, Vigeland resolveu colocar as esculturas no quintal, criando um enorme museu a céu aberto para exibir seu trabalho.
Para ser mais exata, são 212 esculturas em bronze e granito, espalhadas numa área de 320,000 m²: o trabalho de toda a vida de Gustav, planejado e executado ao longo de quase 40 anos.
Ainda era outono na Noruega, mas o céu cinza, a leve névoa e a completa ausência de luz do sol faziam com que dia e noite não fossem tão diferentes assim. Eu cruzei o enormes portões do Parque Frogner, curiosa com o que viria pela frente.
Em 1940, a primeira parte do projeto ambicioso de Vigeland foi aberta ao público. Chamada simplesmente de “A Ponte” conta com 100 metros de ponte, ladeada por 58 esculturas.
Essa é a parte onde você, ou eu, vai começar a notar como era curioso o trabalho de Gustav.
Entre as esculturas mais famosas dessa primeira parte estão o “Menino Bravo” (Sinnataggen), uma representação de um bebê fazendo birra em bronze. E também o “Homem Atacado por Bebês”, que mostra um homem cercado de crianças por todos os lados e aparentemente chutando uma delas.
Essas são algumas das poucas das esculturas do parque que têm nome. E você também não vai encontrar muitas explicações na internet sobre os significados de cada uma delas.
Palavras chave como “ciclo da vida”, “relações humanas”, “homem e a natureza” e “dores do crescimento” aparecem em muitas descrições.
Porém, a interpretação de cada um sobre as obras, tal como o recluso Vigeland queria, é bastante particular. Tem quem ache engraçado, tem quem ache bizarro, tem quem ache sinistro. Eu senti tudo isso.
Da Ponte, você chega à Fonte, um círculo que mostra a vida, do nascimento até a morte. E, por fim, chega na grande estrela da exposição, o Monolito.
Um grande pilar de 14 metros de altura, com 121 figuras humanas subindo uma sobre as outras para chegar ao topo.
Quando perguntando sobre o que significava a peça, o artista respondeu: “essa é a minha religião”.
Se você for atento, notou que a data de abertura da primeira fase exposição no parque é bastante intrigante. Afinal, o ano de 1940 não marcou apenas a abertura do Vigeland Park, mas a ocupação Nazista da Noruega.
Vigeland viajou bastante pela Europa no final do século 19 e início do século 20. Se inspirou nas obras humanas e românticas do escultor francês Rodin. Porém, alguns críticos consideram as obras de cunho fascista ou nazista, semelhantes aos trabalhos do escultor nazista Arno Breker.
Eu não só não vi tais semelhanças, como acho que a cronologia das obras não condiz com a afirmação.
É que o início dos planos para o que se tornou o Parque Vigeland vieram de desenhos feitos durante a década de 1910, que coincide com os anos da Primeira Guerra Mundial. A modelagem das obras em si foi feita antes do início da da Segunda Guerra.
Porém, de fato o parque de esculturas foi erguido em meio ao regime nazista que ocupava a Noruega - e que o artista se mostrou indiferente sobre quem estava no poder.
Vigeland morreu em 1943, sem ver a sua obra completa ou o fim da guerra.
Curiosamente, a última adição às esculturas do parque só aconteceu em 2002: um molde de estátua de gesso, encontrada no porão do artista. Foi feito em 1942, poucos meses antes da modelo para o trabalho, a refugiada austríaca Ruth Maier, ser enviada para Auschwitz.
Uma vez finalizada, a estátua em bronze, chamada “Surpresa” (Overrasket), foi instalada em meio aos bosques do parque Frogner.
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