[360meridianos #27] O que você perguntaria a um Oráculo Grego?
Invasão do Egito? Guerra contra Pérsia? Disputas entre vizinhos? Bastava um dilema, grande ou pequeno, para os gregos antigos seguirem em peregrinação até Delfos
A ideia de um Oráculo que pudesse me ajudar nas decisões mais difíceis da minha vida não me parece ruim.
Logo, enquanto eu subia o trajeto íngreme e irregular que me levava até o Templo de Apolo, consegui compreender por que os gregos que viveram entre 4 a 7 a.C. buscavam esse mesmo local para tomar suas decisões.
Invasão do Egito? Guerra contra a Pérsia? Disputas entre vizinhos? Bastava um dilema, grande ou pequeno, para que os gregos antigos seguissem em peregrinação até Delfos, um complexo de templos em meio ao Monte Parnasos, com vista para um vale coberto de oliveiras e para o Golfo de Corinto.
Uma localização ao mesmo tempo central o suficiente para que as principais cidades Estado tivessem acesso e difícil o bastante para que o caminho até lá parecesse um sacrifício.
Para se consultar com o Oráculo, era necessário fazer uma oferenda (ex-voto) ao Templo. Quanto maior sua importância política, maior o valor.
Hoje, você vê ruínas, pedras jogadas e colunas que sobreviveram aos 2500 anos.
Mas no tablet do tour que eu fazia, uma aplicação mostrava como era a grandiosa subida até o Templo de Apolo no passado: monumentos, tesouros e esculturas comemorativas. Algumas delas ainda existem e encontram-se no museu ao lado das ruínas.
Apesar de estar mencionando o Oráculo acompanhado de artigo masculino, quem ouvia os pedidos dos suplicantes e fazia as previsões era uma mulher, mais especificamente uma das sacerdotisas, Pítia.
O local onde a sacerdotisa proferia suas profecias era considerado o espaço mais sagrado dentro do Templo de Apolo, onde os gregos acreditavam estar o “umbigo do mundo”, um ponto de poderosa energia espiritual.
As condições nas quais Pítia fazia suas profecias eram ritualisticamente controladas. A sacerdotisa se preparava para o seu papel com banhos purificadores, jejuns e rituais de abstinência. Depois, se sentava em um tripé posicionado sobre uma fenda no chão de onde saiam vapores, ou pelo menos era o que eles acreditavam. Hoje, muitas teorias afirmam que esses gases afetavam o estado mental da Pítia.
Uma vez em transe, ela entrava em um estado alterado de consciência, falando palavras muitas vezes incoerentes ou enigmáticas. Os sacerdotes ouviam, interpretavam e entregavam as profecias aos suplicantes.
As profecias feitas pelo Oráculo de Delfos eram intencionalmente ambíguas, para manter a neutralidade do Templo, que basicamente, servia conselhos para os dois lados.
Reza a lenda que o rei Creso recebeu a seguinte profecia quando foi a Delfos: "Se Creso atravessar o rio Hális, destruirá um grande império." Ele interpretou como sua vitória, mas no fim das contas, foi seu próprio império que caiu com a derrota na guerra contra a Pérsia.
Mas não foram previsões que deram errado que levaram o Oráculo à ruína. Guerras, saques, invasões e o avanço do cristianismo acabaram diminuindo a importância dos deuses gregos, até que Delfos perdesse sua importância.
Visita à Delfos
Hoje, do Templo de Apolo restam poucas colunas. Porém, o sítio arqueológico entre as montanhas e com vista para o vale é impressionante. Um museu, que preserva várias das esculturas e oferendas, faz parte do passeio.
O viagem entre Atenas e Delfos é de cerca 2 horas. O tour que eu fiz saindo de Atenas, incluía um tablet com guia multimídia com realidade virtual, mostrando como os templos eram no passado. Veja aqui.
A vila de Delfos é pequena, mas tem boa estrutura de restaurantes. No caminho entre Delfos e Atenas fica a adorável vila de Aráchova, que pode ser uma base excelente para quem quer conhecer mais dessa região da Grécia continental.
Como sempre ótimo texto de deixa
a vontade de mais. Obrigado