[360meridianos #24] Surpresas de viagem em Luxemburgo
Eu sempre vi esses vídeos de empresas vendem viagens para destinos surpresa como um filme de terror.
Raramente, para não dizer nunca, pesquiso sobre os lugares para onde vou viajar. Mas dessa vez, de birra, deixei de lado qualquer tipo de pesquisa.
Não abri um blog, um site, ou vídeo.
Eu sempre vi esses vídeos de empresas vendem viagens para destinos surpresa como um filme de terror. Imagina, arrumar uma malinha pequena sem saber a previsão do tempo? Não saber quanto preciso organizar de orçamento? Valeu, mas melhor não.
Nem mesmo aquela ideia de ir fazer uma viagem longa e organizar o roteiro ao longo do trajeto me agrada muito. Dizem que na vida a gente não tem muito controle de nada, mas eu gosto de ter certo controle sobre as minhas viagens.
Ainda assim, fiz um acordo com o Matheus, meu parceiro. Eu organizaria minha viagem de aniversário, e ele, a dele. Até mais ou menos uma semana antes da viagem, com a exceção do hotel e das passagens de trem, ele também não pesquisou absolutamente nada, talvez contando que eu iria dar o braço a torcer.
Para não falar que eu não sabia nada sobre Luxemburgo, eu pesquisei na Wikipédia um pouco sobre a história do Grão-Ducado faltando uma hora para chegar no país. “Um dos menores países da Europa”, “uma das quatro sedes institucionais da União Europeia”, “um dos maiores PIB per capita do mundo”, “Os serviços, especialmente bancários e financeiros, respondem pela maior parte da produção econômica” e “paraíso fiscal”.
Acrescente a lista: “País mais limpo que a Luíza já visitou. Repare a ausência de qualquer sujeira nessa foto no centro da Cidade de Luxemburgo”
Já de ouvir falar, eu sabia de uma enorme população de imigrantes portugueses e um dos maiores salários mínimos de todo o continente. E, em cinco minutos de conversa com a recepcionista do hotel, descobri outra novidade, que meu parceiro ainda não tinha me contado, provavelmente de birra.
“Sugiro que vocês almocem no centro histórico. Basta pegar o tram aqui do lado. É de graça.”
E lá fomos nós pegar o tram, provavelmente o tram mais limpo e novo que eu já peguei em toda a Europa. Porque não basta ser de graça, ainda tem que ser de boa qualidade.
Enquanto comíamos nossa refeição num restaurante português, perguntei quais eram os planos para o dia seguinte. Uma vila e castelo nos arredores. “Tem certeza que o transporte público é gratuito fora da capital também?”. Ele não soube responder.
“Não precisa pagar nada”, disse o senhor barbudo no hall da estação. Ele tinha um sorriso gentil e um quepe bem estruturado num formato cônico engraçado.
“Mas e se eu for dessa cidade para outra?”
“Também não precisa”.
“Eu posso entrar em qualquer trem ou ônibus e não precisa de nenhum bilhete, nada?”
“Não, senhora”, ele respondeu, sem perder a paciência. “Todo o transporte público* aqui é gratuito.”
E foi assim que eu me vi olhando vaquinhas Luxemburguesas em campos verdejantes pela janela de um trem pelo qual eu não paguei nem um centavo. Quem disse que surpresa em viagem só pode ser ruim?
Vila e Castelo de Vianden
*Luxemburgo liberou o transporte público em todo país para residentes e turísticas em 28 de fevereiro de 2020.