Faz tempo que não escrevo sobre minha vida na Inglaterra. Já contei para vocês da variedade de sotaque, das corridas de cavalo, fiz alguns comentários sobre a culinária local (nem sempre elogiosos) e até sobre o pior amigo oculto do mundo.
Mas nunca falei de trabalho. Além do 360meridianos, para conseguir sobreviver ao custo da libra, também trabalho numa agência de marketing especializada em viagens.
Esse mês, completei 3 anos trabalhando na Inglaterra — e por isso, pensei em compartilhar com vocês algumas curiosidades sobre como é a vida profissional na terra do Charlinho.
Feriado - ou Bank Holiday
Existe um número fixo de feriados por ano: são 8 feriados nacionais na Inglaterra e no País de Gales, 9 na Escócia e 10 na Irlanda do Norte.
Eles são chamados Bank Holidays porque, originalmente, eram dias em que os bancos fechavam, e com eles, o comércio e outras atividades econômicas também paravam. A expressão surgiu com o Bank Holidays Act de 1871, que oficializou esses dias como feriados públicos.
O nome ficou por tradição e hoje os feriados são aproveitados por todos — não só pelos bancos.
A maioria desses feriados não está ligada a datas específicas internacionais ou religiosas. Há, por exemplo, um feriado de primavera em maio e outro no fim de agosto (mas nenhum no outono). Além disso, temos o Natal, a Páscoa e o dia 1º de janeiro. Tudo é programado com antecedência — não existe emendar o feriado, mas, por outro lado, eles nunca “caem” no fim de semana.
Ah, e às vezes são adicionados feriados extras por conta da monarquia. Em 2022, tivemos dois adicionais: um pela morte da Rainha Elizabeth II e outro pela coroação do Charles III.
Férias
Outra grande diferença em relação ao Brasil são as férias. Aqui, ninguém tira um mês corrido. O padrão são 25 dias úteis de férias por ano — e eles podem ser usados aos poucos.
Uma semana aqui, três dias ali, e por aí vai. Na minha empresa, dá até para tirar só meio dia de férias.
Inclusive, é comum que torçam o nariz quando alguém pede duas semanas seguidas. Precisa de uma justificativa boa e aprovação prévia.
Pessoalmente, prefiro esse sistema — consigo viajar mais vezes ao longo do ano.
Expectativas e cobranças
Não posso falar por todas as áreas, mas, pela minha experiência e pelas conversas com amigos, a vida do trabalhador inglês tende a ser bem mais tranquila que a do brasileiro.
Quando comecei na agência, perguntei se precisava passar meu WhatsApp para os clientes. Me olharam como se eu tivesse três cabeças.
Nenhum cliente tem meu número pessoal, e ninguém tenta falar comigo fora do expediente. Meus chefes e colegas também respeitam 100% esse limite.
Trabalho das 8h às 16h e, em três anos, consigo contar nos dedos as vezes que fiz hora extra. Já as vezes que saí mais cedo porque estava sol e o pessoal quis ir para o pub… perdi a conta.
Apesar de os ingleses não terem a reputação de qualidade de vida dos franceses ou italianos, vejo muito respeito à separação entre vida pessoal e trabalho — pelo menos na área de marketing/comunicação.
Almoço
A cultura alimentar inglesa já é uma tragédia conhecida, mas confesso que me surpreendi com o hábito de almoço no trabalho.
Cada um pega seu sanduíche pronto no mercado e volta para a mesa, comendo em frente ao computador. A pausa oficial para o almoço é de 30 a 45 minutos.
Eu meio que causei uma revolução ao insistir em sentar na cozinha para comer com calma. Aos poucos, outros foram se juntando e, hoje, quando vou presencialmente, a galera faz uma pausa de verdade para almoçar.
Ainda assim, é tudo bem rápido. Refeições completas são raras. Eles preferem comer algo prático e ir embora mais cedo.
Demissão e aviso prévio
Os contratos geralmente preveem de 2 a 3 meses de aviso prévio — tanto se você pedir demissão quanto se for desligado.
É um pouco estranho para quem vem do Brasil, mas faz parte do sistema. As empresas já sabem que leva um tempo até o novo funcionário assumir a vaga.
Além disso, depois de dois anos de contrato, demitir alguém exige uma justificativa formal, e há regras claras que protegem o trabalhador.
Entrada no mercado de trabalho
Diferente de muitos lugares do mundo, os ingleses dão pouca importância à sua formação acadêmica na hora de contratar — especialmente para cargos júnior.
É super comum gente trabalhando em áreas diferentes da formação: tenho colegas formados em psicologia atuando em relações públicas, atores em marketing, professores em vendas. Tem até diretor na empresa que nem cursou faculdade.
A universidade é vista como um espaço de amadurecimento, não uma exigência técnica. E as oportunidades para jovens são bem variadas — especialmente em áreas criativas e digitais.
Agora, me conta aqui nos comentários: você tem alguma dúvida sobre o mercado de trabalho na Inglaterra?
como sempre é prazeiroso ler suas anotações. Leve, Objetiva, Suscinta. Grato
Tenho! Como foi pra voce o processo de visto de trabalho? E a adaptacao pra viver por ai, com o clima mais chuvoso e escuro no inverno? Achava que voce ainda morava em Portugal. rsrs